Corredor Ecológico do Norte da Floresta Atlântica
O Corredor Ecológico do Norte da Floresta Atlântica (CENFA) é o componente central de uma proposta de estratégia regional para transformação de paisagens ambientalmente degradadas em bioeconomias resilientes e inclusivas, tendo como base a integração entre pesquisa, inovação, a ação multi-institucional planejada e a participação democrática
A ideia de corredores ecológicos está na origem da disciplina científica da Biologia da Conservação. Garantir a conectividade biológica entre os fragmentos de habitats naturais que constituem a maioria das paisagens contemporâneas é um desafio fundamental a ser superado para que as comunidades ecológicas e o funcionamento dos ecossistemas possam persistir em longo prazo. O isolamento dos fragmentos florestais compromete a viabilidade das populações de muitas espécies e erode os processos ecológicos e evolutivos que garantem a persistência da biodiversidade funcional em longo prazo. O fluxo da biodiversidade na escala de paisagem depende da existência de uma estrutura de ligações -- os corredores ecológicos -- que formam as conexões de uma rede habitats nos quais as condições bióticas e abióticas possibilitam a de dispersão das espécies de animais, plantas, fungos e microrganismos que constituem a estrutura viva dos ecossistemas.
A proposta do Corredor Ecológico do Norte da Floresta Atlântica (CENFA) é uma iniciativa multi-institucional que busca consolidar os fundamentos teóricos, metodológicos e operacionais para a reconstrução das ligações entre alguns dos principais remanescentes da Floresta Atlântica no Centro de Endemismo Pernambuco, no Nordeste do Brasil. Particularmente, a iniciativa do CENFA é desenvolvida pelo IRIS a partir do Campus IV da Universidade Federal da Paraíba, onde estão sediados cursos de bacharelado em Ecologia e o Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental (PPGEMA) da UFPB.
O pressuposto fundamental do CENFA é que a conservação e restauração de ecossistemas funcionalmente íntegros e resilientes é o centro de qualquer projeto que busque a construção da sustentabilidade. Compreendemos que uma abordagem teoricamente sólida e tecnicamente viável para o entendimento e manejo da biodiversidade no nível de meta-comunidade abre preciosas possibilidades para a implementação de abordagens sistêmicas de conservação que podem ser integradas ao debate sobre a estruturação de novas cadeias sócio-produtivas que estabeleçam uma ação sinergética em relação à biodiversidade, de forma que a conservação e restauração dos ecossistemas fortaleça a economia e a inclusão social e os resultados dessa bioeconomia inclusiva, por sua vez, gerem condições para ampliação das estratégias de conservação.
Palestra - Como transformar paisagens ambientalmente degradadas em bioeconomias regionais
inclusivas e resilientes? A proposta do Corredor Ecológico do Norte da Floresta Atlântica (CENFA)
Por Rafael L. G. Raimundo (UFPB) e Cecília Andreazzi (Fiocruz/RJ), em 11/11/2020, no âmbito da mesa redonda "Biodiversidade e Pandemia: estratégias frente às crises que se somam”, durante o XI Seminário de Pesquisa e XII Encontro de IC do ICMBio.
A proposta do CENFA pretende, portanto, gerar as condições para a construção social de estratégias que possibilitem a reconexão biológica entre os principais hotspots de biodiversidade do litoral norte da Paraíba -- a Reserva Biológica Guaribas e as unidades de conservação situadas na região da foz do Rio Mamanguape. Esse corredor ecológico é proposto dentro de uma abordagem multi-funcional, pois supõe que a conectividade biológica pretendida somente será perene se o CENFA ganhar um sentido social e econômico. Dessa forma, além de um núcleo central que refere-se ao corredor ecológico propriamente dito -- cuja função é a garantia da conectividade biológica entre os fragmentos florestais, também discutimos para o entorno do CENFA a promoção de uma rede de empreendimentos comunitários que em, escala regional, promova a expansão da agrobiodiversidade e da cultura agroflorestal como elementos catalisadores de uma nova bioeconomia economia regional alicerçada em produtos e serviços da biodiversidade.
A construção da proposta do CENFA já envolve pesquisadores de diversas instituições, dentre elas professores e professoras dos campi IV e I da Universidade Federal da Paraíba, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, da Fundação Oswaldo Cruz (Rio de Janeiro), da Florida International University (Estados Unidos) e da Newcastle University (Reino Unido). O macro-projeto do CENFA encontra-se estruturado e em contínua revisão a partir da gradual implementação das iniciativas que constituem seus três eixos estruturantes:
1 - síntese e modelagem de dados biológicos, geo-morfológicos e fundiários para proposição de desenhos possíveis para o CENFA, considerando-se a conectividade biológica, a contribuição para a segurança hídrica, a viabilidade de implementação e o potencial de estruturação de empreendimentos sócio-produtivos sustentáveis nas áreas de entorno.
2 - descrição e modelagem de redes de interações ecológicas na escala de meta-comunidade, as quais constituem a estrutura viva do ecossistema ao garantirem a persistência de processos como a polinização, a dispersão de sementes e os ciclos biogeoquímicos. Nesse eixo, estuda-se a viabilidade da reintrodução de espécies de animais que têm funções ecológicas essenciais e que já encontram-se extintas no litoral Norte da Paraíba, tais como o tucano-do-bico-preto e a araponga-do-Nordeste.
3 - promoção de debates, ações educativas e mecanismos de diálogo e ação multi-institucional que fomentem a gradual construção de uma governança sócio-ecológica policêntrica que construa pontes entre a pesquisa científica, a inovação tecnológica e as demandas ambientais, sociais e econômicas no extremo norte da Floresta Atlântica.
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