Notícias
Pesquisadora da UFPB desvenda estratégias de negociação entre fregueses e feirantes
Camaradagem, produtos a mais, fiado, desconto e degustação são as principais táticas
As estratégias de venda e de negociação na feira livre de Itapororoca, cidade do interior da Paraíba, foram objeto de estudo da dissertação da pesquisadora Walkiria Nascimento, aluna do Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGA) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
A motivação para a pesquisa surgiu pelo fato da feira livre da cidade ser o espaço que oferece os mais diversos produtos para a população e abrigar diversas relações sociais e culturais que, de acordo com a pesquisadora, ajudariam a entender a prática dos feirantes e a dinâmica do comércio.
Observando os setores de venda de frutas, verduras e roupas a pesquisadora encontrou diversas curiosidades nas relações dos feirantes com os fregueses. “Se o cliente é mais assíduo, ele se sente mais à vontada para pechinchar. Um cliente novo já não se sente tão confiante em fazer o mesmo sem causar algum atrito”, afirma Nascimento.
A intimidade do cliente com o comprador gera a fidelidade da clientela. Walkiria conta histórias curiosas sobre as observações que fez nas bancas da feira. “Certo dia, um dos feirantes foi dar o troco a uma freguesa, e ela brincou “isso é sabido, não dá um centavo a mais não”. Enquanto ria, ele só respondeu “tô aprendendo com vocês”.
Nascimento também aponta o fato de os feirantes falarem que não fazem uso de estratégias. “Eles utilizam termos como “agradar o cliente”, “tem que fazer com que o freguês veja a mercadoria” ou “se não agradar, o cliente não volta”, comenta. No entanto, essas interações por si só já são classificadas como estratégias de acordo com a pesquisa.
“O que eu faço pra fazer a freguesia é dar uns gramas a mais na mercadoria. O cliente compra um quilo de goiaba e, quando eu peso, se passar um pouco do que ele pediu, eu deixo por isso mesmo”, conta o feirante José, na pesquisa de Walkiria.
Descontos no preço, vender fiado, não cobrar a mais, prova e degustação de frutas e até o grito dos feirantes são formas de fidelizar uma clientela e atrair os frequentadores não assíduos da feira.
“Todas as estratégias contribuem para que os fregueses façam suas compras”, afirma Nascimento. Ela destaca também que os feirantes dispõem de criatividade e improviso, se adaptando a outras situações, como dias chuvosos ou datas comemorativas.
Bruna Ferreira | Ascom/UFPB